Esta resenha se dá, a partir da análise de duas obras, a primeira delas é o filme “A Lista de Schindler” e a segunda, fragmentos lidos do livro “O Diário de Anne Frank”, o contexto histórico dessas duas obras é a segunda guerra mundial e o holocausto, ambas as obras são produto da realidade, não são ficções.
O filme conta a história de judeus-poloneses durante o holocausto e um engenhoso plano de um empresário, membro do partido nazista, Oskar Schindler, para salvar a vida desses judeus, contratando-os como “mão-de-obra essencial” em sua fábrica de esmaltados.
Na primeira cena do filme o contexto retratado é o levantamento, separação e expulsão dos judeus com a invasão da Polônia pela Alemanha em 1939. Os judeus foram submetidos a morar em guetos murados e era identificados com uma estrela no braço – Anne Frank relata essa identificação também em seu diário. Nesta primeira cena, muitos sobrenomes são citados no processo de identificação, um que me chamou atenção foi o sobrenome “Bauman”, pois me fez lembrar do sociólogo polonês cujos pais eram judeus, Zygmunt Bauman, que precisou fugir nesta época e se alistar ao exército polonês na União Soviética.
Bauman é uma das maiores vozes da sociologia no mundo moderno, um dos principais críticos da pós-modernidade, transformou o conceito de pós-modernidade nomeando-a como Modernidade Líquida, classificando a fluidez do mundo caótico e paradoxal, onde os indivíduos não possuem mais padrão de referência. Bauman faleceu no início de 2017. “Modernidade e Holocausto” é uma das suas grandes obras e trata da influência do holocausto na construção da modernidade, ao tempo que desmente a visão estereotipada do holocausto como apenas um evento situado num contexto histórico, fruto de uma mente doentia. Bauman explora toda a arquitetura social, política, econômica, filosófica que sustentou o holocausto como um engenhoso projeto que marcasse a modernidade. A ciência, as Instituições, a educação compraram essa empreitada de friamente marcar a vida moderna como se marca, com um ferro, seu gado.
Outras duas cenas me despertam maior interesse durante o filme, na primeira, mulheres se “maquiam” com o próprio sangue na tentativa de deixar as bochechas e os lábios corados, para que, aparentemente saudáveis, não fossem executadas e sim, escolhidas para o trabalho escravo em novos campos de concentração de surgiam.
A outra cena é, para mim, o maior exemplo de respeito à dignidade humana e à crença. Com o cerco fechado para os judeus, Schindler teve que investir numa suposta fábrica de munição (que na verdade foi um modelo de improdutividade) para contratar estes judeus, mantê-los “produtivos” e salvá-los das execuções. Para isso Schindler suborna muitos membros do partido nazista, gastando grandes somas de dinheiro. Uma lista com mais de mil judeus trabalhadores indispensáveis foi a porta de escape para mantê-los com vida, mesmo que isso tenha significado a falência de Schindler, do seu casamento e dos seus negócios. Não bastasse isso, numa sexta-feira com o pôr-do-sol, Schindler lembra a um judeu de parar de trabalhar e iniciar o sabat (ato da religião judaica que consiste em guardar o sétimo dia da semana com máximo repouso, meditação e adoração). A lição dada é o respeito à crença e garantida da liberdade religiosa. Não cabe ao Estado apenas as garantias básicas de sobrevivência, mas a proteção e respeito à dignidade humana em todos os aspectos.
Schindler correu na contramão de todas as iniciativas do Estado Nazista para salvar vidas humanas em meio ao que foi um dos maiores, se não o maior, trauma vivido pela humanidade. O grande link com “O Diário de Anne Frank” é justamente esse contexto do holocausto.
Em “O Diário de Anne Frank” percebe-se a história de uma adolescente, a partir de um diário escrito por ela e que tem como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial e os horrores do Holocausto, me atendando para as primeira páginas do livro, o que percebo de início é o momento em que ela recebe o diário e como ela se sente bem escrevendo, em um dado momento ela diz que “o papel é mais paciente que os homens”. Ela vê o diário como uma amiga, com a qual ela conversa todos os dias. Além disso, cita algumas questões próprias da Segunda Guerra como as imposições normativas de cerceamento dos direitos do povo judeu.
Pensar direitos humanos na atualidade, é conflituoso, primordialmente por isso: temos mais exemplos do que “não fazer”, do que exemplos sobre “o que, verdadeiramente, fazer”.
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