domingo, 17 de fevereiro de 2019

I Seminário de Avaliação da Residência Pedagogica

 

O I Seminário de Avaliação da Residência Pedagógica da Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB, aconteceu nos dias 13 e 14 de fevereiro com a participação de estudantes dos três campus da universidade, reunidos no Campus Sosígenes Costa, em Porto Seguro, afim de discutir questões relativas à primeira e segunda etapas da Residência Pedagógica.

A primeira etapa diz respeito à observação e caracterização de uma unidade escolar da educação básica, previamente vinculada ao programa, chamada escola-campo. Este processo é chamado de ambientação, onde se reúne as peculiaridades da escola, conhecendo documentos que regem sua estrutura administrativa e pedagógica, primordialmente por intermédio do Projeto Político-Pedagógico - PPP, bem como conhecer o perfil do estudante, gestão, professores e demais funcionários. A segunda etapa será marcada pela articulação das ações para intervenção, mobilização da comunidade escolar, alocação de recursos (humanos, financeiros, materiais e tecnológicos).


O primeiro dia foi marcado pelas experiências dos estudantes na primeira etapa da residência, que mostraram como aconteceu a ambientação, quais as propostas para 2019, assim como as impressões sobre o programa em comparação ao Estágio Supervisionado.

Acredito que as maiores diferenças entre a Residência e o Estágio está na seu objetivo de modificar o próprio Estágio e lhe dar uma nova roupagem. É a partir da Residência que se deve repensar o estágio nas Instituições de Ensino Superior - IES, no que diz respeito aos cursos de licenciatura. Além disso a Residência se propõe a modificar a realidade onde os estudantes estão inseridos com propostas de intervenção na Unidade Escolar. Pensa-se sempre o estágio individualmente e a residência é pensada coletivamente, com atividades conjuntas, sinérgicas, como programa que acontece com grupos de trabalho nas escolas.

No caso da UFSB, esses grupos são interdisciplinares, obedecendo ao viés interepistêmico e intercultural, num sistema de ciclos, primando pela conversa entre as áreas de conhecimento. Apenas um campus obedece a interdisciplinaridade das áreas sem propor, em primeira instância, uma conversa entre elas. Os diálogos no primeiro dia, serviram também para alinhamento das ações para que todos consigam falar a mesma língua dentro da universidade que é por si, muito diversa.


No segundo dia, pela manhã, os estudantes e preceptores se reuniram por grupos intercampi para avaliarem pontos positivos, negativos, e questões relevantes para melhoria das ações em residência. Sentimos a necessidade de criar um grupo via WhatsApp intercampi para que os estudantes pudessem compartilhar seus trabalhos, êxitos e dificuldades. Foi proposto que encontros como esse seminário acontecessem com maior frequência.

O grupo em Coaraci, falou da necessidade de estudantes da mesma universidade (sejam residentes ou com outros vínculos, como Pibid ou estágio) se organizarem para que todos alinhem suas ações ao objetivo comum de melhoria das práticas pedagógicas da educação pública e efetivação das ações da universidade como intervenção à educação básica por intermédio das licenciaturas. A iniciativa foi vista como ação fundamental para que a universidade seja melhor representada dentro das unidades escolares ao tempo em que os cursos de licenciatura são fortalecidos pelo contato com a prática.


Alguns pontos negativos foram destacados, como a própria omissão da Universidade na ações relacionadas à licenciatura e neste caso com a Residência Pedagógica, os alunos de outros campis se deslocaram sem hospedagem, alimentação e sem o auxilio evento que é política da universidade, por falhas na comunicação e por falhas nas políticas da instituição, além de outras questões pontuadas como a negação do transporte aos professores-preceptores que são atores fundamentais nesse processo, já que estão atuando dentro das unidades escolares e em contato cotidiano com os residentes, uma discente lactante também teve o transporte negado por conta da sua necessidade de levar o filho.

Foi levantada por um professor da educação básica de Coaraci e encaminha à coordenação do programa de Residência, uma solicitação para possível intervenção na rede municipal de ensino. Mesmo sabendo que a Secretaria Municipal de Educação de Coaraci não aderiu ao programa de Residência Pedagógica, a solicitação foi levantada para um estudo de viabilidade e espelhamento das ações em residência dos estudantes que já estão atuando em Coaraci para nivelar conhecimentos básicos em Língua Portuguesa e Matemática nas turmas de 9º ano do Ensino Fundamental, evitando assim, diversos conflitos no Ensino Médio. Depois dessas discussões o evento foi finalizado com a fala da coordenação e alguns professores.


Penso o programa de Residência Pedagógica como algo inovador, amplo e muito bem acertado, sabendo que existem algumas questões que precisam ser alinhadas, principalmente no seu processo de implementação e execução pelas IES. Existe um desafio maior no caso da UFSB, visto que estamos diante de um sistema de educação disciplinar, fragmentado epistemologicamente e se propor num modelo de ciclos, interdisciplinar num sistema tradicional é extremamente desafiador.

Adequar a proposta de ensino da Universidade à proposta nacional de Residência Pedagógica desenhada pela CAPES e mesmo com alguns questões já garantidas pela BNCC, adequar o perfil dos cursos de licenciatura perpassa também pelas rupturas deste mesmo documento normativo. Na educação básica, esse desafio torna-se ainda maior. A reforma do Ensino Médio e a BNCC trazem algumas falhas muitos graves e é preciso ponderar essas questões, não colocando esses documentos como a "Bíblia da Educação" ou das práticas pedagógicas nas escolas, como fizemos como os PCN desde a década de 90, mas percebendo a realidade das escolas e conciliando essas exigências às demandas locais.

Penso que a formação integral do ser humano no mundo complexo é o ponto de partida para reflexões que possibilitem o fortalecimento da educação e dos cursos de licenciatura em todo o Brasil e sinto que a nossa região é privilegiada nesse contexto, já que a UFSB tem se comprometido com discentes, preceptores, orientadores e coordenação a, realmente, fazer uma análise crítica de como a educação está sendo desenhada atualmente e de que forma nós podemos contribuir para a melhoria das práticas pedagógicas nas nossas escolas.



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