domingo, 16 de fevereiro de 2020

O “jeitinho brasileiro” pode ser entendido como um elemento da identidade brasileira?


Pensar os elementos que constituem a identidade de um povo, é pensar em construções históricas, políticas, sociais, econômicas, que ao longo do tempo, fixaram e fixam características que tonam uma sociedade ligeiramente ou profundamente diferente das demais. E falar da identidade brasileira remonta todo um esforço de se consolidar elementos comuns em um país tão diverso culturalmente e com fortes heranças coloniais e sérios conflitos de ordem social e política, na construção de uma imagem do que vem a ser (ou não ser) o Brasil, para os brasileiros e para o resto do mundo.

O “jeitinho brasileiro” se configura um desses elementos que projetam, ou que ajudam a formar, a identidade brasileira. E é o que Da Mata (1997) vai chamar de “Modo de navegação social”. O “jeitinho brasileiro” é o que garante ao individuo a resolução de problemas e conflitos do cotidiano, diante do impasse da lei, da regra, da autoridade, oscilando entre o honesto e o desonesto, abrindo espaço para a corrupção enquanto dá o álibi para que o “cidadão de bem” burle o sistema que o oprime.

Nessa perspectiva a figura do malandro, aquele individuo hábil para enxergar oportunidades e vantagens em todas as situações, torna-se um personagem primordial para representar essa ideia do jeitinho. É como se todo brasileiro, tivesse um “malandro dentro de si” e tivesse que usá-lo em algum momento da vida.

Essa ideia sobre o jeitinho, se casa também, com o que registra Lívia Barbosa (1992), quando propõe falar do “país do jeitinho”, analisando o mapa social que legitima essa prática com domínios, técnicas, idiomas e personagens específicos encontrados nas várias classes sociais, em vários lugares, mas muito próprios do Rio de Janeiro.  


Fonte: 

BARBOSA, Lívia. O Jeitinho Brasileiro: A Arte de Ser Mais Igual do que os Outros. Campos, 2005.

DAMATTA, Roberto. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1997



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