sábado, 29 de setembro de 2018

Paradigmas da Humanidade na Educação


Este texto é produzido a partir do esforço de enxergar a influência dos paradigmas estudados durante o Componente Curricular “Complexidade e Humanidades” no contexto escolar atual. As heranças e os desdobramentos do Darwinismo Social, Positivismo, Marxismo, Modernidade Líquida e a Teoria da Complexidade fomentam a discussão sobre o percurso histórico e o panorama atual da escola no século XXI.

A escola não é uma instituição isolada, e como instituição social agrega no seu cotidiano as crenças, os valores, as “verdades”, ideologias, que permeiam e constroem a sociedade que a cerca. Logo, paradigmas adotados ao longo do tempo no desenvolvimento das sociedades humanas se refletem nas mais diversas instituições sociais, portanto a escola não está isenta deste processo.

A relação da educação, como a conhecemos atualmente, com o paradigma do Darwinismo Social estabelecido a partir do pensamento do filósofo inglês Herbert Spencer entre os séculos XIX e XX, está na sua capacidade de reproduzir a segregação não só racial ou social, mas das capacidades ditas como adequadas para o progresso ou a falta dele na vida escolar. A ideia mantida é sempre a de segregação, quando se determina que os intelectualmente capazes precisam, antes disso, serem socialmente capazes. Para uma reflexão mais prática basta se perguntar como estão distribuídos os pobres, os negros e os marginalizados, no nosso sistema de ensino.

As relações entre classes, podem ser observadas com um maior cuidado a partir do paradigma do Marxismo. Para o marxismo, a escola como se estabelece, não é socialmente justa, e para que ela seja, torna-se necessário um levante das classes “oprimidas” contra as classes ditas “opressoras”. A luta de classes, no Marxismo, explica muito da vida em sociedade.

O marxismo se opõe ao caráter nocivo do sistema capitalista, toda a sua teia ideológica e desumanizada que constitui em uma seara de opressão e alienação do homem com o homem, permite que se trabalhados em sala de aula de maneira a ampliar o olhar do educando e pavimentar a construção de uma sociedade crítica e reflexiva que poderá quem sabe transformar o futuro.

Partindo do princípio do positivismo de Augusto Comte, onde a ciência é apresentada como fator primordial para o sucesso colocando o conhecimento científico no pedestal contrapondo as humanidades, visualizamos diversos aspectos desse pensamento positivista, que podem ser nocivos ao contexto escolar.

A principal herança do positivismo no sistema educacional é a forte doutrinação, que inibe e retira os sujeitos do processo efetivo de construção do conhecimento que exige autonomia e protagonismo.

Outro paradigma estudando foi o da Liquidez, abordado por Zygmunt Bauman e que está diretamente atrelado à vida em sociedade na era da modernidade. Bauman, desconstrói o paradigma da pós-modernidade e o substitui pelo paradigma da Modernidade Líquida. Para Bauman, a pós-modernidade não dá conta de explicar a vida humana como ela é, no meio do caos que a atualidade nos traz.

A Modernidade Líquida fala do nosso cotidiano e que como nós nos comportamos nele. A Modernidade Líquida adentra os pátios de nossas escolas, as salas de aula, as relações interpessoais, os modelos de gestão... ela leciona sobre o incerto, o veloz e o efêmero. Assim nenhum valor estabelecido permanece sólido e as relações são passageiras e suas ligamentos/desligamentos são abruptos. Sofre-se pela felicidade que não se tem, pelo medo, pelo que não mais permanece. Todos agora condicionam-se à cultura do curto-prazo, nos resultados imediatos, da velocidade dos processos, e a escola encontra-se também nesse caminho.

Edgar Morin, completa essa discussão ao apresentar a complexidade da vida e da condição humana. Somos seres complexos, sábios e ao mesmo tempo dementes, e nos situamos sobre este paradoxo. O caos apresentado por Bauman na Modernidade Líquida e por Morin na complexidade humana, está longe de ser compreendido no modelo que educação que temos. Neste sentido, Morin defende que a escola precisa mudar a partir de “Sete Saberes Necessários”, compreender a condição humana no mundo de complexidades nos garante os recursos necessários para a resolução de problemas

Morin, conclui dizendo que a as respostas encontram-se na educação, só formando cidadãos capazes de fazer a devida leitura do mundo, do outro e de si, compreendendo a relação entre o local e o universal, é capaz de viver harmoniosamente consigo, com o outro e com o mundo onde habita.

Viver no mundo, sem buscar compreendê-lo, sem ter consciência do seu papel na sociedade, sem a convicção da consequência de suas ações, sem provocar a mudança, sem analisar criticamente a informação dada, sem se reconhecer em constante evolução e desenvolvimento, não é possível.





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