Os processos e as situações de violência embutidos no cotidiano escolar não são poucos. De forma física, simbólica ou psicológica eles invadem as subjetividades dos sujeitos: alunos, professores, famílias, funcionários... todos os atores da comunidade escolar, abrindo profundas feridas na formação da nossa sociedade, principalmente dos violentados, os excluídos, os marginalizados, os que são privados de sua própria história, impedidos de viverem plenamente como seres humanos sonhadores, autônomos, livres.
Dayrell vai dizer que a escola é um espaço de interações sociais e como tal, não está livre de todos os acometimentos políticos, culturais, econômicos e sociais fora dela. Ela espelha aquilo que, de fato, a sociedade vivencia, as injustiças, as violências, os preconceitos, mas também pode ser o espaço onde, segundo Axel Honnet, “o reconhecimento dessas injustiças e os conflitos para a construção de uma sociedade mais justa”, deve acontecer.
Esses processos de violência, parecem afetar mais profundamente aqueles que são diferentes, os que não se enquadram, de alguma forma, dentro do perfil desejado pela educação dos padrões, da cultura hegemônica, dos costumes adotados, do currículo, do tempo, das relações de aprendizagem estabelecidas.
Candau defende que a cultura escolar dominante em nossas instituições educativas, prioriza o comum, o uniforme, o homogêneo, considerados como elementos constitutivos do universal. Nessa ótica, as diferenças são ignoradas. Esses sujeitos, diferentes, se tornam invisíveis enquanto a educação acontece. É o que Bourdieu e Passeron chamam de “Indiferença à diferença”. E quando são notados, são encarados como um problema a se evitar, ou a se resolver.
Olhando para os nossos estudantes, Moreira nos questiona: Como lidar com alunos tão distantes da visão idealizada de estudante que escola sempre cultuou? Como lidar com alunos portadores de necessidades espaciais, com dificuldades de aprendizagem, com condutas inesperadas? Como entendê-los melhor?
E continuamos a nos questionar: Como pensar o amor, o direito à diferença e a solidariedade para a construção de uma sociedade mais justa? Como pensar a formação do professor, a acessibilidade e a cultura que prevalece dentro das escolas, os valores construídos, os hábitos adotados, os processos de desenvolvimento tão engessados? Como rodar essas chaves? Abrir novas portas para que as violências sejam minimizadas na vida prática e na subjetividade dos sujeitos?
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, P.; PASSERON, J. C. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
CANDAU, Vera Maria. Diferenças culturais, cotidiano escolar e práticas pedagógicas. Currículo sem Fronteiras, v. 11, n. 2, p. 240-255, jul/dez, 2011.
DAYRELL, Juarez T. A Escola Como Espaço Sociocultural, Educação em Revista. B.H.(15):21-29. Jun 2000.
MOREIRA, Antônio Flávio. Identidades, saberes e práticas. Educação e filosofia, Uberlândia, v. 20, n. 40, p. 137-157, jul./dez. 2006.
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